sexta-feira, 15 de agosto de 2008

sombra




Depois de uma eternidade pensando em Clara, Juarez decide parar de pensar nela e mudar o rumo de sua vida.
Abre outra garrafa de seu bom e velho scotch, acende um cigarro, vê o anel de fumaça desaparecer no teto do seu quarto. Ato contínuo, pega uma velha agenda telefônica - é verdade, Juarez não tem celular - e começa a procurar por possibilidades... Abre a agenda ao acaso e ela abre na letra L, Juarez vê o nome de uma ex sua: Lúcia...
Lembra-se dela com algum carinho e saudade, lembra que Lúcia foi sua companheira na época em que o mesmo era milionário; linda e loira, Lúcia sempre foi muito disputada nos salões da província... Por onde passava arrancava suspiros, despertava olhares e paixões.
Mas como tudo na vida, nada é perfeito. Lúcia tinha um defeito, se é que era defeito. Amava dinheiro.
Lúcia amou Juarez enquanto esse pôde dar-lhe do bom e do melhor.
Faziam sexo o dia inteiro, nas horas vagas compareciam a eventos sociais onde Lúcia podia exibir todos os mimos com os quais Juarez lhe presenteava.
Mas numa noite clara de verão, Lúcia conheceu alguém mais rico que Juarez, Bruce Wayne, por quem se encantou perdidamente e com que fugiu deixando Juarez na merda.
Ao lembrar desse detalhe sórdido, Juarez resolveu não pensar mais em Lúcia, na verdade, decidiu não pensar mais em ninguém, ninguém que não fosse a sua amada imortal, a única possivel... Clara... "- ah! Clara, por onde estarás?" Pensou em voz alta Juarez.
Juarez tem seu sonho incomodado, algo lhe incomoda... como aquela sensação de q tem alguém te olhando...
Ergue-se da cama e ainda com a visão embaçada de quem dormia, averigua os aredores da cama... Um vulto no canto do quarto, uma sombra. Esfrega os olhos pra poder enxergar, pois até onde se lembra a porta de entrada do seu apartamento está trancada. Abrindo bem os olhos, a sombra começa a tomar definição de gente. Curvas, contornos... Cabelos... Olhos... Boca... Nome... era Clara.
Juarez ensaiou um ataque cardíaco, mas foi apenas uma taquicardia, nada mais.
Como ele não conseguiu iniciar um diálogo, Clara lhe diz que passou ali pra saber dele, como ele estava.
Entre soluços e tosses, Juarez consegue lhe dizer que está bem... Mesmo sabendo que aquilo era uma grande mentira.
Entre um diálogo muito penoso pra Juarez, ele conseguiu conter as lagrimas, afinal, Clara está relembrando o tempo em que estiveram juntos, os momentos felizes e dizendo a ele que o mesmo tinha sido de um tudo na vida dela, quando Juarez soltou a perola: "fui tudo em sua vida, menos o que eu realmente quis, ser seu marido."
Clara se engasgou com o ar... Tentou balbuciar alguma coisa, mas não conseguiu... Bem, finalmente desistiu de falar.
Se entreolharam por uns instantes, olhos nos olhos. Os olhos de Juarez cheios de água, olhos de pidão.
Quando, de súbito, Juarez percebeu ao olhar no oceano não pacífico que eram os olhos de Clara uma lágrima rolar.
Ela se levantou e foi na direção dele, olhou-o de perto, Juarez pôde em fim, sentir seu cheiro, cheiro esse que estava entranhado nele, que ele conhecia bem e que lhe fazia tanta falta.
Se beijaram... Aquele beijo, aquele gosto... A terra parou de girar por instantes. Foi como se nada mais existisse.
Quando Juarez abriu os olhos do beijo, percebeu que estava sozinho no quarto, que tudo não passou de um sonho e que nada daquilo acontecera. Ficou triste, pensou mais meia hora naquilo tentando gravar as imagens na memória e fazendo isso adormeceu tentando sonhar de novo com ela, sua amada imortal...

2 comentários:

Gabriela. disse...

O pior é dizer pro Juarez: "Vai passar, tu sabes que vai passar"

E ele descobrir que quando passar, algo ainda pior vai acontecer: Ele irá deixar de amá-la.

On disse...

ai fica a duvida: o q é pior?